3 de outubro de 2021

A escultura invisível

 

Há poucos meses, foi vendida uma escultura que não existe, por uns largos milhares de euros. O autor, Salvatore Garau, é um italiano, país com tradição neste tipo de fraudes, desde que Piero Manzoni, em 1961, conseguiu vender as suas próprias fezes, numa série de 90 latas de conserva, intitulada “Merda d’artista”. Também Maurizio Cattelan, outro italiano, vendeu uma banana colada com fita adesiva na parede, há um par de anos, por mais de cem mil euros. Mas este Garau conseguiu superar todos esses vigaristas, pois bastou-lhe fazer um quadrado no chão, com fita adesiva, e afirmar que estava ali uma escultura invisível, que logo apareceu um imbecil para a comprar. Isto é tão absurdo que mais parece um golpe baixo, publicitário.
De qualquer modo, assim se atingiu o grau zero na mediocridade da “arte” contemporânea – não é possível descer mais. Estes “artisti di merda” só são possíveis numa cultura profundamente decadente e degenerada, onde a demência, ou mais absoluta nulidade, passa por inovação e padrão de qualidade. No futuro, os historiadores vão referir estes dislates, tal como hoje recordamos as insanidades de Calígula ou Heliogábalo.
É um delírio, foi levado ao limite, e a mentira será desmascarada, inevitavelmente. Quando a luz voltar a brilhar, todo este comércio especulativo se dissipará, tal como as trevas que o acompanham.

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