26 de janeiro de 2021

Uma história deste tempo

 


Um rapaz chamado Costinha foi à província e comprou, por 300 euros, um burro a um velho camponês. O velho combinou entregar-lhe o animal no dia seguinte.

Nessa ocasião o camponês disse-lhe:
— Lamento, Costinha, mas tenho más notícias: o burro morreu.
— Não faz mal — disse o Costinha — devolves-me o dinheiro.
O vendedor respondeu:
— Não posso. Já o gastei.
O Costinha pensou um momento e disse:
— Tanto me faz. Entregas-me o burro morto.
— Para quê? — quis saber o velho. — Que vais fazer com um burro morto?
— Vou rifá-lo — respondeu o Costinha.
— Não estás bom da cabeça! Como vais rifar um burro morto?
— Vamo' lá ver. Como é evidente, não vou dizer a ninguém que ele está morto.

Um mês depois, o camponês encontrou novamente o Costinha e perguntou-lhe:
— E o burro?
— Rifei-o. Vendi 500 números a 20 euros cada um e ganhei 10 mil euros — respondeu o Costinha.
— E ninguém se queixou? — quis saber o velho.
— Vamo' lá ver. Queixou-se o vencedor — confidenciou o Costinha. — Mas devolvi-lhe 40 euros e ficou todo satisfeito.

Costinha cresceu e fez-se político. Inscreveu-se numa juventude partidária, medrou e mentiu até chegar a deputado. Depois continuou a medrar até ser ministro, e a mentir até ser presidente de câmara e, depois, primeiro-ministro.
Um homem que durante a sua vida nunca conheceu nada além do estreito horizonte partidário, que nunca fez nada de produtivo, chegou a responsável pelo governo do país. E tudo isto porque encontrou muitos burros mortos ao longo do seu caminho, burros que foi rifando a muita gente ingénua.
Mas o melhor desta história, é que continua a vender os bilhetinhos de burros mortos para continuar no cargo, para conservar os privilégios da “famiglia” partidária, para pagar os favores através dos seus ajustes directos e outras opacidades, que ele tornou legais, estendendo os seus tentáculos à comunicação social e ao sistema judicial, para se assegurar do controlo de danos e da impunidade necessária.
George Orwell disse: «Um povo que elege corruptos, impostores, ladrões e traidores à sua pátria, não é vítima; é simplesmente cúmplice».

Por isso não se deixem enganar com as rifas de burros mortos; abram os olhos, a mente, e o senso comum. Já são demasiados anos a “andar de cavalo para burro”.

(o seu a seu dono: texto adaptado de Gerard Bellalta i Germán / desenho inspirado em Adriano Centeno)