20 de abril de 2014

25 de Abril, 40 anos. Festejar o quê?

Foi o regime saído do 25 de Abril que nos trouxe à situação actual. Os problemas que vivemos não começaram em 2011, nem em 2008, ou 2000, ou 1993 - começaram em 1974. Todos os vícios e erros de que enferma este regime datam da sua origem: uma desgraçada revolução, em vez de uma transição ordenada, à qual se seguiram os anos de desgoverno que acabaram com o que restava. Pior que isso, a revolução instaurou uma cultura de irresponsabilidade e facilitismo, onde o mérito não é premiado, onde nada se exige para que nada seja exigido em troca, onde se julga normal ter todos os direitos sem a contrapartida de qualquer dever.
O FMI foi chamado a intervir em 1977 e 1983, mas, das reformas necessárias nada foi feito, e nem sequer aprendemos com os erros. Apenas à custa da desvalorização da moeda adiamos os nossos problemas, com perdas assustadoras do poder de compra, desemprego, etc. Desde 1974 o Estado passara a acumular deficits, ou seja, dívida, e isso continuou a acontecer ano após ano, todos os anos, até hoje. Apesar disto, foi "vendida" uma ideia utópica do "estado social": aquilo que os franceses ou os nórdicos conseguiram num trabalhoso processo de longas décadas, implantar-se-ia aqui por um passe de mágica: tudo, para todos, ao mesmo tempo!
Com a adesão à CEE vieram os fundos de coesão europeus, e, em vez de se aproveitar a nova oportunidade para reformar o país, continuou a desperdiçar-se o dinheiro de forma não produtiva, alimentando grupos de interesse que medraram à sombra das negociatas. Satisfazer clientelas para ganhar eleições continuava a ser o único desígnio da governação, enquanto se hipotecava o futuro. Quem lucrou com a Expo 98, o Euro 2004 e os 2700 km de auto-estradas, e tantas outras obras do regime que hoje continuamos a pagar e de nada nos servem?
Com a integração no Euro (um monumental erro de avaliação que passou impune) chegou o crédito barato e continuamos a endividar-nos alegremente a 10% ao ano. Apesar da torrente de dinheiro injectado na economia, o crescimento económico era nulo. O fim estava à vista.
Que regime é este, onde boa parte dos políticos chegam de mãos vazias e partem com enormes fortunas pessoais? Onde a corrupção é generalizada e impune? Onde um padeiro que, alegadamente, terá roubado 70 cêntimos, é condenado a uma multa de 315 euros, com hipótese de vir a cumprir pena efectiva, enquanto os Jardins Gonçalves vêem prescrever os seus processos de milhões? Onde os Fantasias e os Catums do BPN nunca cumprirão qualquer pena, porque é hoje dado por adquirido que os tribunais, mesmo que funcionem sem imprevistos, nunca conseguirão terminar o processo antes da prescrição? Onde os ladrões e assassinos são libertados por erros processuais ou excesso de garantismo, e as suas vítimas são tantas vezes condenadas?
Vamos celebrar o quê? Não há nada a celebrar.

Sem comentários:

Enviar um comentário