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7 de novembro de 2021

A.S.C. 1933-2021

 

O meu pai nasceu numa época de renovação e esperança. Ao longo da sua vida foi assistindo à derrocada civilizacional e cultural, dos princípios e valores, que nos trouxe aos dias de hoje, nem sempre intuindo – como tantos entre nós – as gravosas consequências originadas por causas aparentemente inócuas ou bem-intencionadas. Também o seu corpo físico ruiu nos últimos anos da sua vida, bem mais rapidamente que a sua capacidade cognitiva, e suportou estoicamente essa dor acrescida.

Agora, que partiu, perdurarão apenas as boas memórias do tempo que passámos na sua companhia. E também o exemplo da firmeza de carácter, da honradez, da gentileza e benevolência, que todos quantos com ele privaram lhe reconhecem. E recordarei ainda o seu peculiar sentido de humor, discreto e algo oblíquo, que aflorava por vezes numa gargalhada franca.

Há muitos anos, deu-me uma série de fotocópias humorísticas, onde se destacava o desenho acima publicado. Como o meu pai não combateu no Ultramar, o desenho deverá ter-lhe sido entregue por algum familiar ou amigo que por lá passou. Um desenho anónimo, mil vezes copiado, agora restaurado e colorido, que ridicularizava o inimigo: «Artilharia do MPLA».

26 de janeiro de 2021

Uma história deste tempo

 


Um rapaz chamado Costinha foi à província e comprou, por 300 euros, um burro a um velho camponês. O velho combinou entregar-lhe o animal no dia seguinte.

Nessa ocasião o camponês disse-lhe:
— Lamento, Costinha, mas tenho más notícias: o burro morreu.
— Não faz mal — disse o Costinha — devolves-me o dinheiro.
O vendedor respondeu:
— Não posso. Já o gastei.
O Costinha pensou um momento e disse:
— Tanto me faz. Entregas-me o burro morto.
— Para quê? — quis saber o velho. — Que vais fazer com um burro morto?
— Vou rifá-lo — respondeu o Costinha.
— Não estás bom da cabeça! Como vais rifar um burro morto?
— Vamo' lá ver. Como é evidente, não vou dizer a ninguém que ele está morto.

Um mês depois, o camponês encontrou novamente o Costinha e perguntou-lhe:
— E o burro?
— Rifei-o. Vendi 500 números a 20 euros cada um e ganhei 10 mil euros — respondeu o Costinha.
— E ninguém se queixou? — quis saber o velho.
— Vamo' lá ver. Queixou-se o vencedor — confidenciou o Costinha. — Mas devolvi-lhe 40 euros e ficou todo satisfeito.

Costinha cresceu e fez-se político. Inscreveu-se numa juventude partidária, medrou e mentiu até chegar a deputado. Depois continuou a medrar até ser ministro, e a mentir até ser presidente de câmara e, depois, primeiro-ministro.
Um homem que durante a sua vida nunca conheceu nada além do estreito horizonte partidário, que nunca fez nada de produtivo, chegou a responsável pelo governo do país. E tudo isto porque encontrou muitos burros mortos ao longo do seu caminho, burros que foi rifando a muita gente ingénua.
Mas o melhor desta história, é que continua a vender os bilhetinhos de burros mortos para continuar no cargo, para conservar os privilégios da “famiglia” partidária, para pagar os favores através dos seus ajustes directos e outras opacidades, que ele tornou legais, estendendo os seus tentáculos à comunicação social e ao sistema judicial, para se assegurar do controlo de danos e da impunidade necessária.
George Orwell disse: «Um povo que elege corruptos, impostores, ladrões e traidores à sua pátria, não é vítima; é simplesmente cúmplice».

Por isso não se deixem enganar com as rifas de burros mortos; abram os olhos, a mente, e o senso comum. Já são demasiados anos a “andar de cavalo para burro”.

(o seu a seu dono: texto adaptado de Gerard Bellalta i Germán / desenho inspirado em Adriano Centeno)

16 de agosto de 2020

Atlas, o Atlante

 

É sempre a última gota que faz transbordar o copo.

2 de agosto de 2020

O árabe irritado



Nos anos 80 as relações entre os EUA e a Líbia estavam ao rubro. Não recordo exactamente as circunstâncias que originaram este cartoon, excepto que se tratou de uma demonstração de força marítima por parte dos norte-americanos - possivelmente o incidente no Golfo de Sidra, em Março de 1986. Kadhafi tinha, na época, muito má imprensa: era retratado como um financiador de terroristas, o que só terminou quando decidiu pagar as indemnizações relativas ao atentado de Lockerbie (o que prova o poder “mágico” do dinheiro). Pelo contrário, nunca se publicou uma linha sobre o alto desenvolvimento social e as obras públicas que modernizavam a Líbia, financiadas pelas receitas petrolíferas, e arrasadas na esteira da “primavera árabe” de 2011. A guerra civil e o caos que daí resultaram perduram até hoje; são o triste resultado da exportação da “democracia” pelas forças do “império”.


12 de junho de 2020

Duelo ao pôr-do-sol


A secretária fechou a porta atrás de si, acercou-se e disse:
— Mr. Goldberg vai recebê-lo agora. Pode entrar.
— Obrigado.
Pouco depois estava num imenso gabinete forrado a madeiras escuras, com cartazes de velhos filmes alinhados pelas paredes, e atravessei a grossa carpete no meio de um absoluto silêncio. Havia um leve cheiro a óleo de cedro e a tabaco de cachimbo e, ao fundo, uma vidraça que ocupava toda a parede. Frente a ela uma escrivaninha e um vulto sentado, que a contraluz me impedia de ver claramente.
— Bom dia, Mr. Flynn! Sente-se, por favor.
— Bom dia, Mr. Goldberg — pousei a pasta numa mesinha de apoio e afundei-me no grande cadeirão de couro negro.
— Em que posso ser-lhe útil?
— Estudou a minha proposta de argumento?
Ele mudou de posição na cadeira com um rangido imperceptível, fez uma pausa e disse:
— Trata-se de um western, não é? Não estou bem recordado... Importa-se de me fazer uma sinopse?
— A ideia é a seguinte: temos esta história passada após a Guerra de 1812. Um tenente do exército é desmobilizado e, quando volta à sua herdade, nas margens do Missouri, descobre que a sua casa foi incendiada e a família degolada, durante uma revolta de escravos. Cego pela ideia de vingança, ele vai transformar-se num caçador de prémios, perseguindo escravos foragidos. Só que acaba por nunca entregar nenhum, pois no último momento, dominado pela dor e pela recordação, acaba sempre por lhes enfiar um tiro na cabeça.
Goldberg tinha retirado os óculos e limpava meticulosamente as lentes grossas com um paninho claro. Depois voltou a pousá-los sobre o nariz adunco, olhou-me fixamente durante uns segundos, e disse:
— Sim... já me recordo. Não podemos fazer esse filme, Flynn. Hoje em dia, nem pensar. Na noite de estreia tínhamos todos esses activistas profissionais a pegar fogo aos cinemas, a acusar-nos de racismo... e outras coisas piores. A publicidade gratuita não compensaria os prejuízos.
Afundei ainda mais no cadeirão negro e receei que ele me fosse engolir. Nunca me ocorrera que um filme de pistoleiros, de pura diversão, pudesse ofender susceptibilidades. No entanto a história parecia-me boa e, num golpe de asa, tentei salvar o trabalho, enquanto lutava para emergir do cadeirão.
— E se fosse ao contrário?
Goldberg devia estar já a pensar noutros assuntos, porque desceu à terra atabalhoadamente.
— Como diz? Não estou a entender...
— Ao contrário — disse eu com impaciência. — O pistoleiro é preto e vai matar foragidos brancos... presidiários, assaltantes, eu sei lá!... Já não nos acusam de racismo, pois não?
— Lá isso não, Mr. Flynn... Mas esse filme já foi feito, não há muito tempo: chama-se “Django Libertado”.
O cadeirão parecia ganhar-me vantagem novamente, mas Goldberg não me deixou saborear a derrota por muito tempo. Consultou o relógio de pulso, em ouro, e disse pausadamente:
— Desculpe Mr. Flynn, mas tenho uma reunião marcada para daqui a dez minutos. Ouça: porque é que não esquece esse argumento antiquado, e não escreve uma coisa mais moderna e vibrante? Olhe à sua volta, há muito por onde se inspirar... Marque uma entrevista com a minha secretária, e voltamos a encontrar-nos daqui a uns meses. Gostei muito de o ver, passe bem.
— Igualmente, Mr. Goldberg. Até à vista.
Escapei à goela do cadeirão, peguei na pasta e fiz o caminho de regresso. Não marquei qualquer entrevista e, quando cheguei à rua, a brisa transportava o aroma doce do jasmim. Mas devia estar a delirar, pois naquela terra nunca floriram esses arbustos.

31 de maio de 2020

Pesca grossa



Tal como há “caça grossa”, por analogia propõe-se a “pesca grossa”.
E nem me estou a referir ao desenho... Deixei ficar, propositadamente, um apontamento de uma aula numa cadeira que nós (os alunos) considerávamos confusa, e cujo fim não era fácil descortinar. A opinião corrente era que se destinava a proporcionar espírito crítico, ou a facilitar um método de raciocínio. Falou-se muito durante o ano lectivo (ou melhor... o prof. falava muito -- lembro-me de um condiscípulo que adormecia profundamente nestas aulas), houve um par de “performances” ridículas (como todas as “performances”) e, no final do ano, apresentava-se um trabalho escrito. Tenho ideia que ninguém chumbou nesta cadeira...
Passados estes anos, ao reler os apontamentos, percebi finalmente o contexto: puro lixo marxista! Agora, tudo faz muito mais sentido...

24 de maio de 2020

A corda da forca


Afrase é atribuída a Lenine e, na época, a União Soviética já não parecia ter grandes condições para cumprir a ameaça. Hoje, o testemunho passou para a China, embora em condições diferentes. Em 1984, a China já tinha iniciado as reformas económicas que a trouxeram à posição actual, mas era ainda irrelevante na economia mundial. Para concluir: o cartoon não ficou desactualizado, apenas mudaram os protagonistas - e o grau da ameaça.

4 de maio de 2020

Epitáfios e algo mais


Epitáfios em estilo country & western. O algo mais, que até está no início, podia ilustrar a frase “a magia de um homem é a engenharia de outro homem”, de Robert A. Heinlein; neste caso, “a magia de uma mulher é a engenharia de outro homem”. Mas como isto podia levar a segundos sentidos e ofender as multidões, é melhor fingir que ficamos por aqui...

23 de abril de 2020

Reclamações

Os Serviços Municipalizados não têm “contribuintes” mas “clientes”, manda o rigor dizer. No entanto, a ideia-base é a mesma... reclamações com os serviços estatais dão nisto, normalmente.

19 de abril de 2020

O “gangster”

Há uma conhecida foto de Churchill empunhando uma metralhadora. Se lhe alterar um pouco o cenário, parece saído de um filme de “gangsters”... Daquela época em que os bancos eram roubados por intrusos.

18 de abril de 2020

Tomada de Leiria aos mouros


Nem os cretinos são de Creta, nem o Rocha Carvalho pertence a este filme...

17 de abril de 2020

Doutor Morte

Doctor Death, internacionalmente reconhecido como o “Mãozinhas de Aranha”.

12 de abril de 2020

Bad Sherlock (1)

Em 1984 apareceu uma série televisiva britânica, “The Adventures of Sherlock Holmes”, protagonizada por Jeremy Brett e David Burke, à qual eu assistia com algum interesse e que terá sido, possivelmente, a inspiração para estes desenhos. Nunca tinha lido Arthur Conan Doyle. Li depois um par de livros com o Professor Challenger, uma colectânea de contos, e só muito mais tarde as obras “canónicas” de Sherlock Holmes: 4 novelas e 56 contos. Sherlock Holmes (ao contrário deste Bad Sherlock) não é um detective trapalhão; ele é o herói de uma Londres que simboliza uma época marcada pelo triunfo do racionalismo, da lógica e da ciência -- a Inglaterra victoriana, o apogeu do Império Britânico.